Basta subir o termômetro para o hidrômetro ficar congelado. Todo verão é a mesma coisa. A água falta em várias regiões de Niterói e São Gonçalo, mas as concessionárias Águas de Niterói e Cedae, que atendem respectivamente as duas cidades com quase dois milhões de habitantes, respondem que “os casos são pontuais”.
Ambas só conseguem distribuir água através de sistemas de manobras na rede, fazendo com que haja perda de pressão nos chamados finais de linha. Para a Zona Sul, Centro e Pendotiba, a concessionária niteroiense promete melhorar a distribuição ainda neste verão. Mas até se passarem os próximos dois meses, a população terá que ficar à mercê dos pipeiros, que cobram R$ 350,00 a cada dez mil litros entregues.
Na terça-feira, dia 21, quatro caminhões-pipa estavam parados em fila dupla na Rua São Sebastião, no Ingá, abastecendo dois condomínios. Atrapalhavam o trânsito, às 11h da manhã, porque a única alternativa dos síndicos para aliviar os vizinhos da falta de água foi recorrer aos pipeiros, já que a concessionária responde que a prioridade para a entrega de seus carros-pipa é para hospitais e clínicas.
Há mais de dez anos, quando ganhou a concorrência para distribuir água em Niterói, a concessionária prometeu acabar com o sistema de manobras na rede. Mas isto não deverá acontecer nem agora, quando vai comprar um volume maior da Cedae, passando a receber 2.100 litros por segundo, contra os 1.800 litros atuais.
O superintendente de Águas de Niterói, Nelson Gomes, admite que há problemas em algumas regiões da cidade, mas promete melhorar o abastecimento, como resultado da construção de três reservatórios em Pendotiba (dois deverão ser inaugurados no dia 30, com a nova adutora para São Francisco e região. Juntos, eles terão capacidade para três milhões de litros d’água).
– Trabalhamos nos últimos anos no limite. Agora, com o acordo assinado com a Cedae, poderemos melhorar, e muito, a distribuição. E com as mudanças que fizemos na rede, vamos aumentar a pressão e o volume de água nos fins de rede, que são os mais afetados quando cresce o consumo.
Já o presidente da Cedae, Wagner Victer, justifica que não poderia atender o pedido de Niterói por mais água antes de a companhia estadual concluir obras no sistema Imunana-Laranjal, que aumentaram a produção de água de 4.600 litros por segundo para 6.400 litros por segundo.
– Era necessário fornecer mais água para Niterói, mas sem prejudicar São Gonçalo e cidades vizinhas. Estamos recuperando décadas em obras de infraestrutura na região – disse Wagner Victer.
Processos e reclamações
Enquanto se renovam promessas de um verão livre da seca, as queixas contra o desabastecimento se acumulam no Procon e no Judiciário. A Cedae está dentre as trinta maiores litigantes, em ranking divulgado pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio, enfrentando 12.049 processos nos Juizados Especiais em 2013, e mais 4.484 ações cíveis.
Águas de Niterói é réu em 300 ações no Juizado Especial e outras 126 distribuídas a Varas Cíveis em 2013. A empresa também tem sua reputação considerada como “ruim” pelo site www.reclameaqui.com.br.
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