Em fevereiro, o projeto Eliminar a Dengue: Desafio Brasil, realizado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), vai começar a liberar mosquitos aedes aegypti com a bactéria Wolbachia para controlar a dengue, zika e chikungunya em Charitas, Preventório, São Francisco e Cachoeira, onde vivem cerca de vinte mil pessoas na Zona Sul de Niterói. No ano passado já fizera o mesmo em Jurujuba e também na Ilha do Governador, no Rio de Janeiro.
O objetivo é substituir, gradualmente, a população de aedes aegypti de campo pelos mosquitos com a bactéria que os impede de transmitir os vírus daquelas doenças. O programa iniciado na Austrália vem obtendo grande êxito há mais de cinco anos. Outros países, como Colômbia, Indonésia e Vietnã, também puseram em prática a iniciativa, que não utiliza nenhum tipo de modificação genética.
O método utilizado é natural, seguro e sem qualquer risco para as pessoas, os animais e o meio ambiente, garante o pesquisador Luciano Moreira. O projeto faz parte de uma iniciativa internacional, o programa Eliminate Dengue: Our Challenge, sem fins lucrativos, que é conduzida no Brasil pela Fiocruz.
O objetivo do projeto é substituir, gradualmente, a população de aedes aegypti de campo pelos mosquitos com a bactéria. Isso acontece através do cruzamento dos aedes aegypti, na medida em que a bactéria é passada naturalmente da fêmea para os filhotes, que já nascem com a Wolbachia. Esse processo garante a autossustentabilidade do método.
Projetos-piloto
Entre agosto de 2015 e janeiro de 2016 foram realizados os projetos-piloto em Tubiacanga (Ilha do Governador – Rio de Janeiro) e Jurujuba (Niterói). Nestes bairros foram liberados os Aedes aegypti com Wolbachia, a bactéria que inserida no mosquito reduz a capacidade de transmissão da dengue, da Zika e da chikungunya pelo mesmo. Até o momento, nessas áreas dos projetos-piloto, cerca de 80% da população de Aedes aegypti possui a bactéria Wolbachia – um resultado considerado, pela equipe do Projeto, como satisfatório e muito positivo.
Em março de 2016, a Organização Mundial de Saúde (OMS) através de seu Comitê de Controle Vetorial (Vector Control Advisory Group – VCAG) revisou as opções de controle vetorial de mosquitos em resposta à epidemia internacional de Zika e emitiu uma declaração recomendando a expansão em larga escala do método com Wolbachia do programa internacionalEliminate Dengue: Our Challenge.
Fase de expansão
A nova fase do Eliminar a Dengue: Desafio Brasil inicia em 2017 com a participação de uma equipe multidisciplinar e de especialistas, reestruturada para atender a todas as necessidades da expansão em larga escala, com cerca de 60 profissionais na Fiocruz. O Projeto possui quatro atividades principais:
1. a comunicação do projeto;
2. o engajamento comunitário;
3. a liberação dos mosquitos Aedes aegypti com Wolbachia;
4. o monitoramento, para verificação da presença de Wolbachia na população de mosquitos.
Neste mês, as equipes de comunicação e de engajamento comunitário já trabalham para informar a população sobre as liberações de Aedes aegypti com a Wolbachia nos quatro bairros de Niterói. Após o diálogo, engajamento da população e esclarecimento das dúvidas, serão feiras as liberações dos Aedes com Wolbachia seguido do período de monitoramento para averificação da presença de Wolbachia na população de mosquitos que deve perdurar por alguns meses.
A escolha de Charitas, Preventório, São Francisco e Cachoeira dará continuidade ao processo iniciado em Jurujuba no projeto-piloto. Em seguida, a fase de expansão do Projeto chegará a outros bairros de região de Praia de Baía e da Região Oceânica de Niterói.
O Projeto expandirá para o Rio de Janeiro em meados deste ano, onde realizará a liberação de Aedes aegypti com Wolbachia em bairros da Zona Norte, Centro e Zona Sul, dando continuidade às liberações realizadas no bairro de Tubiacanga na Ilha do Governador, no ano passado. Ao todo serão alcançados cerca de 2,5 milhões de habitantes do município durante um período entre 2 a 3 anos dessa fase de expansão.
— Não é só liberar os Aedes aegypti com Wolbachia. Fazemos todo um processo de engajamento antes, de informação e conscientização com a população. Os resultados estão mostrando o grande sucesso dessa iniciativa”, completa Luciano Moreira, pesquisador da Fiocruz e coordenador geral do Projeto no Brasil.
O Eliminar a Dengue: Desafio Brasil mantém o compromisso de informar à população sobre todo o andamento das atividades através de vários meios de comunicação e de uma equipe especializada em Engajamento Comunitário. A parceria é indispensável e, como parte do compromisso de transparência, Comitês de Referência Locais são formalizados com caráter multidisciplinar, consultivo para atuar como um dos canais de comunicação direta entre o Projeto, a população da região, as entidades de classes e diversas instituições (religiosas, educacionais, ONGs, dentre outras).
Durante a fase de expansão serão conduzidas avaliações epidemiológicas das arboviroses circulantes, em parceria com os municípios, na tentativa de verificar o impacto da liberação dos mosquitos Aedes aegypti com Wolbachia na redução do número de casos das doenças transmitidas pelo mosquito.
Metodologias de Liberação
Luciano Moreira explica que dois métodos de liberação de mosquitos Aedes aegypti com a Wolbachia vem sendo utilizados desde os projetos-piloto em Tubiacanga e Jurujuba. O primeiro é a liberação de mosquitos adultos diretamente em vias públicas. O segundo é a criação de Aedes com Wolbachia, através do Dispositivo de Liberação de Ovos (DLO), um recipiente fechado onde os mosquitos se desenvolvem. Os DLOs são colocados em áreas públicas ou em propriedades particulares de pessoas dos bairros que colaboram com a iniciativa, chamados “anfitriões” do Projeto. No interior do DLO há ovos de Aedes aegypti com Wolbachia, água e alimento para as larvas que vão nascer. Cerca de sete a dez dias após a instalação, os mosquitos já estarão adultos e voarão para fora do recipiente por meio dos furos existentes no dispositivo.
De acordo com o pesquisador, o uso dos dois métodos é parte da busca por metodologias de liberação que sejam ao mesmo tempo mais eficazes e de melhor custo x benefício. “Devido à diversidade de características das cidades brasileiras, em termos de estrutura urbana e ambiental, escolheremos a melhor estratégia para cada área a ser trabalhada. É importante ressaltar que o DLO não possui produtos químicos ou tóxicos”, explicou.
Informações sobre o Projeto estão disponíveis para o público na Internet, em fiocruz.br/eliminaradengue. Para mais informações ou esclarecimento de dúvidas o contato pode ser feito através do e-mail eliminaradengue@fiocruz.br e pelos telefones (21) 3882-9265 e 99643-4805, inclusive com ligações a cobrar, de segunda a sexta-feira, nos horários de 9h às 17h.
Aprovações Regulatórias
Os projetos-piloto no Brasil foram aprovados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP) após rigorosa avaliação sobre a segurança para saúde e para o meio ambiente.
A expansão em larga escala foi aprovada recentemente pela (CONEP) também após rigorosa avaliação sobre a segurança para a saúde.
Financiamentos e Parcerias
No Brasil, o projeto tem financiamento da Fundação Oswaldo Cruz, do Ministério da Saúde (Secretaria de Vigilância em Saúde – SVS e Departamento de Ciência e Tecnologia da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos – DECIT/SCTIE), do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, do CNPq e do Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES).
A Secretaria Municipal de Saúde de Niterói e a Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro atuam como parceiros locais na implantação do Projeto, fornecendo contrapartida de pessoal e logística. O financiamento internacional inclui verba da Fundação Bill & Melinda Gates, via Universidade Monash na Austrália e o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos.